11.19.2004

. . . durmo irrequieto. . .

. . . durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
definidamente pelo indefenido. . .
de quem dorme irrequieto, metade a sonhar

fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias
correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua
não há na travessa achada o número da porta que me deram

acordei para a mesma vida para que tinha adormecido
até os meus exércitos sonhados, sofreram derrota
até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados
até a vida só desejada me farta - até essa vida. . .

compreendo a intervalos disconexos
escrevo por lapsos de cansaço
e um tédio que é até do tédio, arroja-me à praia

não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme
não sei que ilhas do sul impossíveis aguardam-me náufrago
ou que palmarés de literatura me darão ao menos um verso. . .

Fernando Pessoa (obras completas, II volume, 1926)

2 Comments:

Blogger Rita said...

Bonitas e desconcertantes palavras...
Qual a mensagem que queres passar?
Beijinho*
Rita

November 25, 2004 at 9:03 PM  
Blogger Rui Almeida said...

É simplesmente uma passagem que me prendeu a atenção e assim, partilhar faz todo o sentido.
Beijinhos

January 16, 2005 at 10:01 AM  

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