. . . durmo irrequieto. . .
. . . durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
definidamente pelo indefenido. . .
de quem dorme irrequieto, metade a sonhar
fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias
correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua
não há na travessa achada o número da porta que me deram
acordei para a mesma vida para que tinha adormecido
até os meus exércitos sonhados, sofreram derrota
até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados
até a vida só desejada me farta - até essa vida. . .
compreendo a intervalos disconexos
escrevo por lapsos de cansaço
e um tédio que é até do tédio, arroja-me à praia
não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme
não sei que ilhas do sul impossíveis aguardam-me náufrago
ou que palmarés de literatura me darão ao menos um verso. . .
Fernando Pessoa (obras completas, II volume, 1926)
definidamente pelo indefenido. . .
de quem dorme irrequieto, metade a sonhar
fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias
correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua
não há na travessa achada o número da porta que me deram
acordei para a mesma vida para que tinha adormecido
até os meus exércitos sonhados, sofreram derrota
até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados
até a vida só desejada me farta - até essa vida. . .
compreendo a intervalos disconexos
escrevo por lapsos de cansaço
e um tédio que é até do tédio, arroja-me à praia
não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme
não sei que ilhas do sul impossíveis aguardam-me náufrago
ou que palmarés de literatura me darão ao menos um verso. . .
Fernando Pessoa (obras completas, II volume, 1926)